Ele era o xodó do escritório.
Estagiário, mas com a leveza de quem sabia entrar em qualquer ambiente sem pedir licença, só com a própria alegria. Divertido, espontâneo, querido por todos. Uma daquelas pessoas que dançam com o corpo e também com a alma.
Num final de semana, aconteceu uma festa bastante conhecida, daquelas que reúnem gente de todos os cantos da cidade. Estava com amigas, dançando como sempre dançou leve, solto, sem vergonha de ser ele mesmo.
E foi aí que os seguranças de quem organizava a festa se aproximaram.
Um deles o seguiu até o bar e, com um tom debochado, disse:
“Se continuar dançando igual uma bichinha louca, vou te ensinar a dançar como homem.”
Antes de se afastar, ainda completou:
“Talvez seja melhor repensar o jeito que você aparece por aqui nas próximas vezes.”
Na segunda-feira, ele chegou ao escritório diferente.
O mesmo menino que sempre entrava cantando, chegou calado, tenso, com medo. Me contou o que havia acontecido e algo nele estava apagado.
Então, fiz o que achei certo:
Descobri o telefone de quem deu a festa, liguei, e contei exatamente o que havia acontecido com meu estagiário.
E fui clara:
“Se os seus seguranças voltarem a ameaçar meu estagiário ou ofendê-lo por dançar como ele é, quem vai acordar com o olho roxo vai ser você.
Meu nome é Ana Mitzakoff . Pode anotar.”
Nunca mais falei com ele.
Os anos passaram.
E, algum tempo depois, essa mesma pessoa contratou meu escritório para desenvolver um projeto.
Desde então, já fizemos várias coisas juntos, ele é meu cliente há alguns anos.
Nunca falamos sobre aquele episódio.
Mas há entre nós um respeito silencioso, que dispensa qualquer explicação.
Talvez ele tenha entendido o que eu quis dizer.
E, mais ainda, o que eu não aceitei calar.
Porque algumas pessoas dançam como borboletas
e o mundo precisa, urgentemente, aprender a não esmagar o que só sabe encantar.
